O Brincar com uma visão mais ampla.
Brougére aborda a brincadeira como um
contexto geral que inclui não só o lúdico na vida da criança, como também
fatores culturais e sociais do contexto de cada criança. O autor defende vários
pontos de vista, como por exemplo, a vida social em que a criança esta
inserida, o brincar e o jogar como algo que se aprende, e o jogo como ficção (o
segundo grau).
Gilles Brougére pesquisa a cultura lúdica
através da realidade social em que cada criança vive, pois em cada contexto
social existe uma cultura diferente e diferentes maneiras de brincar. É a
partir daí que a criança aprende a brincar de acordo com sua cultura e
costumes, escolhe suas brincadeiras preferidas e o modo que irá realizá-la,
pois em cada região a mesma brincadeira pode ter regras e maneiras diferentes
de realizá-las. Os jogos se adaptam a cada contexto social, se adapta aos
diferentes hábitos, e aos recursos disponíveis para cada sociedade.
Em seus estudos, Gilles aponta que as
crianças se baseiam na realidade em que vivem para criar seu próprio mundo do
faz de conta, um universo alternativo que ele batizou de segundo grau, é onde a
ficção predomina em tempo integral da brincadeira. Mas é mantida também uma
relação com a realidade (primeiro grau), pois a criança usa o tempo todo como
referência para manter sua brincadeira no segundo grau. Ou seja, a criança
precisa vivenciar no mundo real para poder criar um mundo imaginário, ela
precisa de referências, experiências vivenciadas no dia a dia.
Para Gilles, a brincadeira não é inata,
pois a criança não nasce sabendo brincar, é preciso antes aprender a brincar. É
uma cultura construída logo cedo e começa quase sempre com a relação entre mãe
e filho quando o bebe ainda no berço é estimulado com brinquedos pela mãe, é
uma inserção cultural na vida da criança que vai se estruturando aos poucos.
Com isso a criança não aprende só a brincar, mas também lições do dia a dia,
como por exemplo: a saber, separar o faz de conta da realidade, a compartilhar
e conviver com outras crianças, os mecanismos, os ritos, aprende a jogar
determinados jogos como o vídeo game, a praticar esportes como o futebol, entre
outros. Mas algumas crianças não conseguem entrar no segundo grau gerando uma
dificuldade para brincar, pois a brincadeira é totalmente lúdica, é um universo
de fantasias, e são essas crianças que dizemos que “não sabem brincar”. Enfim,o
brincar e jogar para Gilles é como algo que se aprende, tornando o ato não
somente como uma simples brincadeira, mas como também experiências vividas por
elas e aprendizados concedidos através das brincadeiras.
Contudo, podemos concluir que o autor
teve uma visão ampla em seus estudos, levando a fundo cada hipótese por ele
levantada. Levando em consideração os fatores sociais vividos pela criança, a
cultura passada e ensinada a ela, as “regras” para se estabelecer uma conexão
com o faz de conta, a importância do segundo grau na vida delas, e como elas
aprendem com um simples ato de jogar e brincar, nos fazendo pensar e enxergar a
criança por outro ângulo.